O estabelecimento de redes online de conteúdo em ambientes participativos institucionais ajuda a transformar os capitais humano e de relacionamento em capital estrutural. Nesse processo, a recuperação de informações tem um papel importante, sendo em parte automatizável, em parte realizável pelos usuários e em parte dependente de agentes que catalizem essa depuração.
O conteúdo produzido em ambientes participativos institucionais online se estrutura em torno de interesses profissionais e também, como em qualquer ambiente participativo, em torno dos interesses pessoais, dos relacionamentos e dos afetos do dia-a-dia. Nesses ambientes, para encontrar conteúdo realmente útil, os usuários precisam de agentes e ferramentas que os ajudem na filtragem.
Exemplo: Um grupo de trabalho de uma empresa cria uma comunidade para discutir o projeto de um novo portal. As discussões são abertas a todos os colaboradores da organização, pois os integrantes do grupo de projeto acham importante que o maior número possível de pessoas acompanhe os processos.
No final do projeto, o grupo se dissolve mas o espaço da comunidade permanece como manancial de conteúdo útil para elaborar novos projetos da mesma natureza. Nesse caso, embora não seja mais atualizado pelos integrantes do grupo de projeto, como esse conteúdo pode ser reutilizado por outros profissionais?
Outra situação comum é a de dois usuários de comunidades que estejam pesquisando o mesmo assunto e nenhum dos dois saiba disso. Nesse caso, como colocar estes profissionais em contato e enriquecer suas pesquisas e projetos?
Processos de marcação (inserção de tags) automatizados
Num ambiente participativo online, a seleção do conteúdo publicado pode ser automatizada pela classificação dos textos e dos arquivos de acordo com determinadas categorias de assuntos e assuntos subordinados (artes plásticas > pintura). Desta forma, os usuários podem filtrá-los nas ferramentas de busca.
Além dos assuntos, os posts podem ser marcados também pelo modo como o conteúdo é visto por seus autores: “arquivo de trabalho”, “relatório”, “troca de ideias”, “ponto de decisão”, por exemplo.
A estes filtros, somam-se outros mais comuns, que exigem conhecimento prévio do usuário sobre o material a encontrar, como “autor”, “data de autoria”, “data de postagem”, “nome” etc.
Para a seleção de conteúdo em tempo real, pode-se associar ferramentas de RSS a estes filtros, de modo que os assinantes sejam informados em tempo real da atualização de comunidades ou áreas de trabalho.
A avaliação do conteúdo dos usuários por outros usuários, com marcações como “pouco importante”, “razoavelmente importante” ou “muito importante” também ajuda a estabelecer uma ordem para os resultados das buscas, bem como para criar listas de melhores contribuições, publicadas e atualizadas em lugares bem visíveis da interface.
Também as estatísticas de acesso de cada blog ou comunidade permitem estabelecer rankings de popularidade do conteúdo, o que nem sempre garante que o conteúdo produzido nestes contextos seja o de melhor qualidade.
Ações dos usuários para recuperar informações
A classificação e marcação dos arquivos no momento da sua postagem não funciona se não for considerada importante pelos usuários, se for encarada como perda de tempo, mais uma rotina a realizar.
Ou seja, é necessário que os atores não só sintam necessidade de fazê-lo como é preciso que reconheçam seu papel ativo para a recuperação de informações publicadas nas comunidades. Para isto, é preciso que assinalem marcações (tags) que reflitam verdadeiramente a natureza das informações que publicam.
Além da marcação do conteúdo, cada usuário é também colaborador na atualização das palavas-chave de assuntos e sub assuntos (ou do thesaurus, se houver), para que estas se adequem à natureza do ambiente dinâmico de relacionamentos entre as informações publicadas.
Processos editoriais para a recuperação de informações
Mais ou menos formais, os processos editoriais em comunidades online são realizados por agentes/editores ou animadores que estimulam a participação dos integrantes e destacam o conteúdo mais importante para realizar os objetivos da organização ou da comunidade em si.
Esses editores representam a visão institucional dentro daquele ambiente, são parte do grupo e o representam perante a instituição. Em algumas comunidades, são escolhidos pelos próprios membros em outras são contratados para examinar e selecionar o conteúdo publicado.
Seja qual for seu modo de inserção, os editores aplicam critérios claros (para si mesmos, para a comunidade e para a instituição) para associar marcações de destaque ao conteúdo publicado, para facilitar a ordenação dos itens no resultado das buscas.
A recuperação de informações em ambientes participativos demanda soluções complexas em que decisões humanas e automatizadas se combinam e se complementam, para criar ambientes de informação criativos e funcionalmente úteis para seus participantes e seus mantenedores.
(Atualizado em 20.9.2009)
Referências
→ Livro: O conhecimento em rede, como implantar projetos de inteligência coletiva, de Marcos Cavalcanti e Carlos Nepomuceno. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2006
→ Cooperação e Controle na Rede: Um estudo de caso do website Slashdot.org, tese de Beatriz Cintra Martins. UFRJ, 2006. Investigação da interface de comunicação do website Slashdot.org, suas tecnologias de auto-organização e auto-valoração e relações entre cooperação e controle nas interações entre parceiros
→ Sistema de busca on-line da Biblioteca da UFES – O papel do designer em um sistema (monografia de Juliano Santos Fonseca, acesso em 22.8.2008)