Partindo da perspectiva da aprendizagem coletiva e da influência recíproca entre conteúdo e usuários, pode-se propor um ambiente de gestão de arquivos editoriais com condicionantes baseados nas cinco disciplinas de Senge.
1. Atender às necessidades operacionais dos usuários, especialmente dos usuários finais: funcionalidades que facilitem o processo de interação com o sistema, a realização de buscas simples, bem como o acesso às informações, em diversos formatos, permitindo o acesso aos registros relevantes, de acordo com uma abordagem sistêmica.
O uso de vocabulários controlados e tesauros voltados para a recuperação ajuda os usuários a localizar informações com precisão, quer conheçam ou não o assunto que estão pesquisando. A representação de importantes conceitos de uma determinada área de atividade ou conhecimento permite a aplicação direta, nas buscas, das terminologias utilizadas no tratamento das informações arquivadas.
O atendimento de necessidades operacionais inclui também a escolha da linguagem de indexação, a qualidade da experiência de uso da interface, sua harmonia formal, a segurança dos dados dos usuários e do próprio sistema, sua capacidade de revocação e precisão, sua funcionalidade intuitiva e de fácil aprendizado e memorização.
A Biblioteca Nacional oferece aos usuários dos seus acervos online diversos recursos para a pesquisa, por meio de pesquisa livre com palavras-chave em índices de autor, título, assunto, coleção, local de publicação, publicador, ano de publicação, série, tipo de documento.
O usuário pode também buscar palavras empregadas por autores em suas obras (no ponto de acesso de autor), palavras presentes nos títulos das obras (no ponto de acesso de título) e palavras específicas do ponto de acesso de assunto.
Na página de resultados, o pesquisador encontra não só as informações do catálogo mas também indicações sobre os formatos das informações, resultados para buscas das palavras isoladas e, acesso direto aos documentos sonoros arquivados.
2. Viabilizar as trocas dinâmicas de informações entre usuários e informações e usuários e entre usuários e bibliotecários (ou gestores de conteúdo), para que a interlocução seja feita tanto com o sistema de informações quanto com pessoas ligadas aos acervos estabelecendo “tensões criativas” para o desenvolvimento de maestria pessoal.
A disponibilização de interlocução direta com os bibliotecários e agentes da equipe de arquivamento, bem como com outros usuários e grupos de usuários e até com outros acervos, permite não só o atendimento personalizado ao usuário como a compreensão mais aprofundada das suas demandas pela equipe que modela os serviços.
3. Permitir a personalização do modo de visualização e de navegação, se aproximando do modo como os agentes ou grupos de agentes pensam, ou de seus modelos mentais. Esses estão relacionados às representações das informações ao modo como o usuário constrói seu pensamento, tem aspectos “gráficos” (percursos e formatos) e semânticos próprios (sentidos que as informações adquirem nos percursos).
A disponibilização de modo de classificação com palavras-chave definidas pelos usuários, ao modo do Delicio.us exige apenas que cada usuário se atenha de modo consistente aos critérios de sua autoria, sem obrigatoriamente precisar lidar com soluções pré-estabelecidas.
O uso por grupos de vocabulários/etiquetas compartilhados permite o uso das ferramentas de maneira colaborativa, de modo que cada usuário ajude a criar um patrimônio coletivo de palavras-chave de uso restrito ao ambiente compartilhado.
Os vocabulários, bem como os dados de buscas mais frequentes (palavras-chave, registros, resultados) podem ser associados a cada perfil individual e ficar discriminados de maneira diferente para diferentes grupos dos quais cada um participe.
4. Dar suporte ao aprendizado de uso da ferramenta, levando em conta diversos tipos de veículo, bem como as características semânticas do conteúdo arquivado. O estímulo ao aprendizado coletivo visa ao atendimento das necessidades de inovação e motivação dos usuários e considera processos de comunicação amplos, bem como funcionalidades para o estabelecimento de redes de competências.
5. Disponibilizar espaços temáticos de acesso coletivo e privado para cada usuário, para consolidar a cultura de desenvolvimento editorial do conteúdo dos arquivos e estabelecer uma visão compartilhada (ou de consenso) que permita o encadeamento de novas ideias.
Os espaços temáticos contextualizam as informações em diversos universos ontológicos e podem ser desenvolvidos a partir de uma perspectiva editorial consensual, a partir da própria instituição que mantém o acervo. Também podem ser desenvolvidos por uma comunidade com interesses comuns.
As afinidades entre o aprendizado organizacional e o arquivamento de conteúdo online podem ser desenvolvidas para o aprimoramento da visão criadora e transformadora dos ambientes de arquivamento, busca e recuperação de informações, bem como para a compreensão crítica de seu papel social.
E servir de fio condutor para um modelo de gestão de arquivo editorial online que considere em contexto tanto as características do conteúdo quanto os interesses de seu publico. Anne-Marie Duguet, pesquisadora francesa especializada no projeto de arquivos de obras de arte, sintetiza bem a questão:
“(…) Um arquivo não fica nunca completo, pronto. A questão que se coloca se refere à seleção e à definição dos limites das áreas de memória evocadas, ao estabelecimento das linhas de cisão, à multiplicidade das regiões e domínios que devem se relacionar: os pontos de encontro. (2)
Referências
1) A quinta disciplina, de Peter Senge. São Paulo: Editora Best Seller, 1999.
2) L’art des mémoires numériques de l’art. Pour une “anarchive”, de Anne-Marie Duguet. France: Université de Paris 1 Panthéon-Sorbonne, 2003. Ver mais sobre o conceito de “anarquivo” e livros sobre arquivos digitais de obras de arte em http://anarchive.net
→ As cinco leis da biblioteconomia e o exercício profissional, Maria Luiza de Almeida Campos (acesso em 29.3.2008)